presskit DJ Jota Wagner



quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Justice Seje Feita




Estes dias botei no meu twitter um tremendo bafon que rolou no portal da Beatport sobre o Justice. Acontece que eles são mais um caso de live p.a.s flagrados dando truque no público e fingindo tocar equipamentos desligados. Tal "denúncia" de fãs mais atentos já rolou com gente grande como Daft Punk - cujo live é comprovadamente programado do primeiro ao último beat. Aliás, um amigo extremamente confiável viu o show dos Chemichal Brothers do lado do palco nos Estados Unidos e jura que viu vários sinths simplesmente desligados.

Há muito tempo atrás, os amigos de chill out se lembrarão (caso haja serotonina) que sempre fui meio "pé atrás" para live performances. Na época, eu achava injustificável que música eletrônica, surgida e difundida pela nova era do DJ fosse ultrapassada por produtores que nada mais faziam do que levar parte do seu estudio para o palco. Era muito trabalho, muito equipamento, muito cabo pra pouquíssimo resultado em improvisação, enquanto um Disk Jockey tinha em seu case 80 discos de produtores diferentes que o permitiam ir para vários lados diferentes durante a discotecagem, um live p.a. era impreterivelmente amarrado a uma sequência de músicas pré estabelecidas e, devido ao hardware levado ao palco na época, preso aos mesmos timbres.

Para os não técnicos, segue um pequeno descritivo: num live p.a. o artista leva para o palco laptops com softwares de produção musical abertos e / ou si
ntetizadores e máquinas de fazer bateria já programadas em casa para casa música, que em 99,5% dos casos já tem uma sequência pré-estabelecida, um set list, pronta para o show. A lista de equipamentos pode ir do "mini" (laptop e um controlador midi), médio (um case com alguns sinths, bateria eletrônica e outros badulaques, como faz por exemplo o Nego Moçambique) e mega master (caso de gente como Antony Rother e Chemichal Brothers) que levam toneladas de equipamentos pra cima do palco.

palco. Depois te tudo montado, voce tem básicamente seus projetos de música abertos no palco onde você pode modificá-las. Dance music não tem segredo. Bateria + uma linha de baixo bacana + Sinteziadores, Vozes, samples, o que jogar na panela não desanda o angú se feito com talento. O que se faz num live p.a. é tentar modificar o que você já tem pronto no estuúdio com o máximo de originalidade ao sabor do público. Ou, se você que está fazendo 10 shows por mês, viajando de um lado pro outro, tá com dor de barriga, ou deprimido, ou de saco cheio, aperta o play e fica mexendo nuns knobs disponíveis, bolando um ueum ueum diferente enquanto reza para que o tempo passe rápido e o hotel seja bom.

Resumindo: se você tem uma banda de rock, pode fazer como o Nirvana no Brasil. Toca tudo errado, rasteja no palco e dá um outro tipo de, digamos, show. A música não vai sair. Já no caso de uma live performance existe uma possibilidade grande de você simplesmente apertar o play e fingir que está batucando no controlador, como fez o Justice.

E tudo isso me faz pensar nesta época atual, pós exumação do rock'n'roll, em que está na moda ter um live performance em formato de `banda de rock`. Basta olhar os indicados a melhor DJ no Guia da Folha: Boss In Drama, Roots Rock Revolution, Killer On The Dancefloor, The Twelves, Database, Sany Pitbull e DaDa ATtack.

Todos tem nome (em inglês de banda), tem cortes de cabelo de banda, usam camiseta de banda, tem logotipos de banda, atitude de banda de rock'n'roll. Sinal dos tempos e talvez a `final solution` pra recuperar os milhares de garotos que lotam as festas de rock na região da rua Augusta? Deus salve a Ableton, que tornou isso possível. Aliás, se você quiser entrar na onda e montar tambem sua banda de rocktrônico, é imprescindível que você conheça isso.

Hoje em dia obviamente sou bem menos crítico em relação aos live p.a. Tem as pessoas. O público quer ver e ouvir seu artista preferido no palco tocando as músicas do disco que ele tem em casa no melhor formato show do Raul Seixas. Se possível até cantar junto. Ainda é uma herança de 100 anos de uma mesma fórmula. Tambem acho que os produtores que não são DJs tem o direito de se divertir. Claro que tem!! Ninguem precisa ser obrigado a "virar" DJ só para se apresentar. E além do mais... se não houvesse live p.a. não haveria o já citado Nego Moçambique. E se não houvesse Nego Moçambique não haveria mais razão pra continuar. Portanto, que venham os live p.a.s.

No entanto, em meio a estas revoluções de microondas que acontecem todo ano desde que a internet virou hit, em meio a todos estes formatos e reformatos comandados quase que mais pela industria de software musical do que por qualquer outra coisa, ainda vejo no futuro o padrão Ritchie Hawtin como o que mais se aproxima do meu ideal. Ainda, um DJ. Sabe DJ? Estes que tem um montão de discos (ou arquivos) diferentes no case, esses que pegam 50 musicas e junta tudo transformando numa opera-jazz de duas, três, quatro horas de duração. Estes que fazem uma fuzão acidental, um easy listening pra chapado festeiro... um dance listening... um fuck listening... Para mim... mesmo hoje em dia, nunca existiu `a música do produtor Zé`, existem sempre `o set do DJ Zé` nos comentários da padoca pós festa ou no apartamento envodkado de alguem. Mas esta é pura e simplesmente a minha visão deste mundo nos dias de hoje. Pura e simplesmente uma invasão de roqueiros na minha festa de jazz. de dub, de soul... necessária provavelmente. Importante para trazer novas idéias, quebrar preconceitos, assim como chá de boldo pra fígado preguiçoso.

Antes que algum DJ recalcado por não tocar em lugar nenhum envie comentários esfuziantes e chorões levantando a bandeira da `verdadeira house music` já aviso. Passa reto, irmão, e vai deixar seu vomitório nostálgico em outro lugar. A idéia aqui é outra. é Zen. Eu duvido que o show de qualquer um dos rocktrônicos citados acima não seja bom ou, pelo menos, divertido. Até porque, qual DJ tradicional - destes de blusão, boné, camisa de label e case na mão - apareceu fazendo algo diferente em 2008? Nenhum. Portanto, é o que eu já disse. Sinal dos tempos.

A gente passou o ano todo tocando por ai. Traditional DJing, brother. CD, Disco e Mixer. E eu vi na cara de todo mundo na pista o quanto as pessoas gostam de groove. Quantos sorrisos de `puta que pariu, tinha quase me esquecido de como este groove é bom` eu vi e reconheci. Eu ví as pessoas gozarem na pista de dança. Porque eu sei que toda overdose de fórmulas músicais cria uma retaliação igualmente intensa no público. Porque existe Malú Magalhães e interesse por folk? Porque as pessoas estavam overdosadas de My Chemichal Romance, CPM 22 e outras porradarias ultra-saturadas. Aí, quem estava no lugar certo na hora certa se deu bem. Todo ouvido precisa descansar.

E por coincidência hoje eu lembrei de um dos maiores jazzistas lunáticos do meu tempo. Comprei um disco do Kevin Yost... Este cara entende o que eu quero. É um dos meus melhor amigos sem nunca ter me visto na vida. Para quem gosta de qualquer tipo de música:








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