presskit DJ Jota Wagner



sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Profissão DJ? Não sei não....

Faz algum tempo que tem rolado nas internas a história de que um grupo de DJs brasileiros (estamos falando de um pequeno grupo) está lutando pela regulamentação da profissão de DJ, mesmo senda esta uma profissão já existente registrada no ministério do trabalho como discotecário, vinculada ao ministério da hotelaria e turismo.

Se alguem pensa que tal movimento é para garantir ao discotecário direitos como fundo de garantia, férias e demais blablablas, adianto que estão enganados. O buraco é mais embaixo, mais escuro e sujo. A tal regulamentação é para obrigar clubs e promoters a contratar somente profissionais afiliados a um sindicato, organização esta que, apesar de eu não estar sabendo absolutamente nada a respeito, leio nas entrelinhas estar com tudo pronto para ser criado justamente por este pequeno grupo de pessoas que estão lutando pela tal "regulamentação".

O pouco que sei sobre o assunto foi através de um convite a uma reunião no Rio de Janeiro feita em uma comunidade de Orkut, a House Music Brasil, a quem pudesse estar interessado (e morasse no Rio, claro). Desde o início fiquei com a pulga atrás da orelha em relação a criação de tais "leis e mecanismos de fiscalização" e explico porque:

O que é ser DJ?
Quem é "mais dj" na sua opinião?
- o "dj Zequinha" que toca num casamento uma pilha de cds previamente escolhido pelos noivos, chega no começo da festa monta seu set e suas caixas de som entre o vai e vem dos demais funcionarios do buffet e pacientemente aguenta tio chato pedindo É o Tcham até que o último manguaça deixe a festa com óculos de plástico e marabú cor de rosa no pescoço?
- o dj "Felipinho Gonçalves" residente de uma boite sona zul do Rio ou do Itaim, que toda a semana toca as "mais mais" da 97 FM, farofas do "electro house" todos os sabados impreterivelmente, durante os 12 meses do ano.
- Um DJ conhecido nacionalmente que leva público e fãs onde vai tocando só o que gosta e acredita e que graças a este universo de fãs cobra cachês de 5, 10 mil reais por apresentação?
- Ou um Carlos Eduardo Miranda da vida, que conhece tudo de música, tem uma caralhada de discos raríssimos na coleção e que vez por outra pega num mixer como convidado especial para botar umas músicas diferentes para o público interessado no que ele tem a mostrar?

Pois aqui vai minha opinião, embasada em quinze anos de experiência em clubes escuros e fumacentos botando disco, alem de outros quatro tocando guitarra desafinada em clubes escuros e fumacentos:

Apesar de todos fazerem parte deste universo, o que mais carrega a bandeira do DJing dos 4 é o Miranda num bar qualquer de São Paulo. Na minha opinião o melhor DJ é sempre o que entende mais de música. DJ é acima de tudo um pesquisador musical e entendedor ferrenho de música, herança herdada de nossos antepassados do rádio. DJ é o cara que diz ao público "taqui, exclusivo pra vocês, o single de uma nova banda de liverpool que faz um som ótimo. Voce ainda vai ouvir falar destes caras".

O "zequinha" pra mim é um técnico de som. Um montador de equipamentos que mixa a pedido do cliente uma relação de músicas estabelecidas. Idem ao segundo exemplo, o Fê Gonçalves, uma classe sem autoridade pra colocar só a música que acreditam ser boa sendo obrigados a tocar o que o "aniversariante" quer.

Sou contra esta dita regulamentação porque se ela rolar nos moldes anunciados, os clubes serão obrigados a contratar o zequinha e seu amigo do itaim todas as noites, pois contratar um DJ convidado acabará sendo inviável mediante tantos compromissos com os residentes e o seu Miranda terá de fazer "curso profissionalizante" para ter seu diploma e se apresentar legalmente.

Trocando em miúdos: quem não tem a arte no sangue, o som e a fúria (citando prztz), quem não ama a música acima da loira siliconada na frente da cabine quer garantir o seu lugar no d-edge e no Vegas através de um conjunto de leis que obrigam os clubes a contratar DJ regulamentado e sindicalizado. E quem vai criar as regras que as definem? o Zequinha e o Felipinho Gonçalves.

Nas discussões da comunidade do Orkut, apoiadores da lei disseram que isso ia `acabar com a farra de clubes que pões moleques` pra tocar. Pois o Camilo Rocha era um moleque ao voltar de Londres cheio de discos de acid techno. O Mau Mau era um moleque na Nation. Eu era um moleque quando fiz minha propria festa , a Chain Reaction, em buracos de Campinas levando meu (pequeno) publico em lugares falidos.

Quando era `do rock` tinhamos que tirar foto de terno e gravata e fazer `teste de musico` numa casa caindo as pedaços no centro de Jundiai com uma placa de `Delegacia da Ordem dos Musicos do Brasil`. Voce entrava na residencia (sim, era a residencia do "delegado") e ele dizia: lê esta partitura aqui. - a turma toda respondia - nós não sabemos ler partitura.... - aah , então toca qualquer coisa aí.
Uma instituição decrépta, que ao entender a impossibilidade de carimbar quem é e quem não é músico, vive até hoje de taxas cobradas de nós otários e multas em bares desavisados pagando salários de "delegados" aka sindicalistas que trabalham muito, muito pouco.

Tudo isso permeado por outras medidas ultra protecionistas sugeridas pela turma do Zequinha à deputados que muito, muito, muito, muito pouco entendem de arte.

segue a nota que saiu no rraurl.com sobre o assunto

"
DJO projeto de lei que regulamenta a profissão de DJ foi aprovado pelo Congresso e deve ser publicado no Diário Oficial no próximo mês de março. O Projeto de Lei do Senado nº 740 é de autoria do senador Romeu Tuma e, através dele, a figura do DJ é incorporada na categoria de Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversão.

As previsões do Projeto incluem:

- Aplica-se a lei àqueles que, previamente inscritos no Ministério do Trabalho e Emprego, tiverem seu serviço esses profissionais para a realização de espetáculos, eventos, festas, comícios, programas, produções ou mensagens publicitárias;

- Para seu registro, esses profissionais devem possuir diploma de curso profissionalizante e atestado de capacitação profissional fornecido pelo sindicato representativo da categoria;

- O modelo de contrato de trabalho será definido pelo Ministério do Trabalho e Emprego;

- Os eventos realizados com a utilização de profissionais estrangeiros deverão ter a participação de, pelo menos, 70% de profissionais nacionais."









4 comentários:

kicknofalante disse...

Além de patrões, DJs, escrevem muito bem ! Hehehe

O espaço é pequeno pra tecer comentários meus caros COLORS Brothers, mas que isso vai bagunçar o coreto, a vai...

Quem viver verá !

Abraço

Elson Cabral

Anônimo disse...

Jota, acho muito coerente e perspicaz a sua opinião no texto. Sou contra também essa legalização, pois dá "superpoderes" a um sindicato.
É mais uma forma de ganhar dinheiro arquitetada pelos políticos e a futura turma "da boquinha" de sindicalistas e famigerados cursos profissionalizantes.

Só para você ter idéia: tenho o registro de Radialista Profissional e o sindicato cobra oitenta reais pelo registro. Peraí? Oitenta reais de um cara pobre, desempregado na época e recém-saído da faculdade? O quê fiz? Informei-me na DRT (Delegacia Regional de Trabalho) e me registrei de graça lá para exercer minha profissão. Agora imagina se tiver que prestar contas a dois sindicatos.

Outro detalhe: você acha que o sindicato vai na favela saber se um dj que toca no baile organizado por "forças maiores" está registrado? Duvido!

A famosa moralização da profissão não ocorrerá. Essa sindicalização é muito boa para dj's residentes de clubes que acham que estão sendo atacado por "dj's de 50 reais" e "dj´s por um dia". O quê digo para eles é que mal profissionais não sobrevivem no mercado por muito tempo e ter um "dj por um dia" é só uma jogada de marketing para encher evento.


Sei que muita gente e conhecidos meus que lêrem essa opinião aqui vão começar a fazer bico e ficar revoltadinhos. Mas, na boa: I don't care!

Outro detalhe se a profissão está ligado ao SATED, então o porquê de criar um sindicato de DJ's. Está aí uma boa questão para uma boa briga. Será que vão querer dividir o "bolo" com representantes de artistas e técnicos de espetáculos?


Será?????

colorsblog disse...

exatamente skrok.

se o problema fosse 'direitos trabalhistas' seria facil. Basta adequar uma lei enquadrando o DJ em qualquer classe ja estabelecida. Nem nescessario isso seria porque já existe a profissao 'discotecario', como disse.
A historia trata de algo mais cruel, que é reserva de mercado mesmo. A idéia é proibir que o dj 'nao profissional' se apresente. O que acho um absurdo se tratando de uma manifestacao artistica. é a mesma coisa que proibir um poeta que nunca lançou um livro de recitar num sarau!

Laritz disse...

Cabe a vocês, profissionais das nossas queridas noites, uma mobilização para que a profissão seja regulamentada de acordo com o que é hoje, preservando os direitos daqueles que fazem da música a sua vida.

Se vocês não pressionarem, vai virar uma fábrica de dinheiro para o sindicato, como ocorre com outras profissões. É preciso uma grande mobilização!

Beijos!