Se alguem pensa que tal movimento é para garantir ao discotecário direitos como fundo de garantia, férias e demais blablablas, adianto que estão enganados. O buraco é mais embaixo, mais escuro e sujo. A tal regulamentação é para obrigar clubs e promoters a contratar somente profissionais afiliados a um sindicato, organização esta que, apesar de eu não estar sabendo absolutamente nada a respeito, leio nas entrelinhas estar com tudo pronto para ser criado justamente por este pequeno grupo de pessoas que estão lutando pela tal "regulamentação".
O pouco que sei sobre o assunto foi através de um convite a uma reunião no Rio de Janeiro feita em uma comunidade de Orkut, a House Music Brasil, a quem pudesse estar interessado (e morasse no Rio, claro). Desde o início fiquei com a pulga atrás da orelha em relação a criação de tais "leis e mecanismos de fiscalização" e explico porque:
O que é ser DJ?
Quem é "mais dj" na sua opinião?
- o "dj Zequinha" que toca num casamento uma pilha de cds previamente escolhido pelos noivos, chega no começo da festa monta seu set e suas caixas de som entre o vai e vem dos demais funcionarios do buffet e pacientemente aguenta tio chato pedindo É o Tcham até que o último manguaça deixe a festa com óculos de plástico e marabú cor de rosa no pescoço?
- o dj "Felipinho Gonçalves" residente de uma boite sona zul do Rio ou do Itaim, que toda a semana toca as "mais mais" da 97 FM, farofas do "electro house" todos os sabados impreterivelmente, durante os 12 meses do ano.
- Um DJ conhecido nacionalmente que leva público e fãs onde vai tocando só o que gosta e acredita e que graças a este universo de fãs cobra cachês de 5, 10 mil reais por apresentação?
- Ou um Carlos Eduardo Miranda da vida, que conhece tudo de música, tem uma caralhada de discos raríssimos na coleção e que vez por outra pega num mixer como convidado especial para botar umas músicas diferentes para o público interessado no que ele tem a mostrar?
Pois aqui vai minha opinião, embasada em quinze anos de experiência em clubes escuros e fumacentos botando disco, alem de outros quatro tocando guitarra desafinada em clubes escuros e fumacentos:
Apesar de todos fazerem parte deste universo, o que mais carrega a bandeira do DJing dos 4 é o Miranda num bar qualquer de São Paulo. Na minha opinião o melhor DJ é sempre o que entende mais de música. DJ é acima de tudo um pesquisador musical e entendedor ferrenho de música, herança herdada de nossos antepassados do rádio. DJ é o cara que diz ao público "taqui, exclusivo pra vocês, o single de uma nova banda de liverpool que faz um som ótimo. Voce ainda vai ouvir falar destes caras".
O "zequinha" pra mim é um técnico de som. Um montador de equipamentos que mixa a pedido do cliente uma relação de músicas estabelecidas. Idem ao segundo exemplo, o Fê Gonçalves, uma classe sem autoridade pra colocar só a música que acreditam ser boa sendo obrigados a tocar o que o "aniversariante" quer.
Sou contra esta dita regulamentação porque se ela rolar nos moldes anunciados, os clubes serão obrigados a contratar o zequinha e seu amigo do itaim todas as noites, pois contratar um DJ convidado acabará sendo inviável mediante tantos compromissos com os residentes e o seu Miranda terá de fazer "curso profissionalizante" para ter seu diploma e se apresentar legalmente.
Trocando em miúdos: quem não tem a arte no sangue, o som e a fúria (citando prztz), quem não ama a música acima da loira siliconada na frente da cabine quer garantir o seu lugar no d-edge e no Vegas através de um conjunto de leis que obrigam os clubes a contratar DJ regulamentado e sindicalizado. E quem vai criar as regras que as definem? o Zequinha e o Felipinho Gonçalves.
Nas discussões da comunidade do Orkut, apoiadores da lei disseram que isso ia `acabar com a farra de clubes que pões moleques` pra tocar. Pois o Camilo Rocha era um moleque ao voltar de Londres cheio de discos de acid techno. O Mau Mau era um moleque na Nation. Eu era um moleque quando fiz minha propria festa , a Chain Reaction, em buracos de Campinas levando meu (pequeno) publico em lugares falidos.
Quando era `do rock` tinhamos que tirar foto de terno e gravata e fazer `teste de musico` numa casa caindo as pedaços no centro de Jundiai com uma placa de `Delegacia da Ordem dos Musicos do Brasil`. Voce entrava na residencia (sim, era a residencia do "delegado") e ele dizia: lê esta partitura aqui. - a turma toda respondia - nós não sabemos ler partitura.... - aah , então toca qualquer coisa aí.
Uma instituição decrépta, que ao entender a impossibilidade de carimbar quem é e quem não é músico, vive até hoje de taxas cobradas de nós otários e multas em bares desavisados pagando salários de "delegados" aka sindicalistas que trabalham muito, muito pouco.
Tudo isso permeado por outras medidas ultra protecionistas sugeridas pela turma do Zequinha à deputados que muito, muito, muito, muito pouco entendem de arte.
segue a nota que saiu no rraurl.com sobre o assunto
"O projeto de lei que regulamenta a profissão de DJ foi aprovado pelo Congresso e deve ser publicado no Diário Oficial no próximo mês de março. O Projeto de Lei do Senado nº 740 é de autoria do senador Romeu Tuma e, através dele, a figura do DJ é incorporada na categoria de Artistas e Técnicos em Espetáculos e Diversão.
As previsões do Projeto incluem:
- Aplica-se a lei àqueles que, previamente inscritos no Ministério do Trabalho e Emprego, tiverem seu serviço esses profissionais para a realização de espetáculos, eventos, festas, comícios, programas, produções ou mensagens publicitárias;
- Para seu registro, esses profissionais devem possuir diploma de curso profissionalizante e atestado de capacitação profissional fornecido pelo sindicato representativo da categoria;
- O modelo de contrato de trabalho será definido pelo Ministério do Trabalho e Emprego;
- Os eventos realizados com a utilização de profissionais estrangeiros deverão ter a participação de, pelo menos, 70% de profissionais nacionais."